terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Terráqueo

Entre lençóis que bailam nos varais do quintal,
Eu ando sem rumo, tal qual uma criança que brinca de esconder.
Não acho nada alem de tecidos leves de cores serenas.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Sentado numa pedra que se destaca no alto de um morro,
Percebo que balanço um pouco com a força do vento.
Naturalmente olho para baixo e vejo que meus pés se apóiam num precipício.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Uma casa simples, falha ao tentar me proteger do frio.
Temendo e tremendo eu deito ainda de calçados.
A cama velha range, as mantas são duras e a neve se acumula na janela.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Há um terremoto a cada instante.
Uma nuvem negra de enxofre toma parte do planeta.
Uma enchente transforma a metrópole em lar do caos.
Metais voam impulsionados pela força da pólvora e direcionados aos corpos frágeis de carne.
O fogo que aquece também destrói.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Minha identidade foi esculpida nas madeiras da terra.
Fui selado em um corpo limpo como tela em branco,
Sentindo sinfonias que entram e saem de mim.
Meus pensamentos montam novos planetas em segundos,
Basta apenas eu permitir.
E, se permito, crio um novo mundo.
Segundos depois meu novo mundo deixa de existir.
Porque por mais belo que meu novo mundo seja,
Só será valido se houver outros como eu nele.
Só serão belos os lençóis se ao menos outro correr comigo entre eles.
Só não balançarei nas beiradas do precipício se alguém me der a segurança para se manter no topo.
Graças a outras pessoas posso dormir bem numa noite de frio,
Agradecido Pela casa emprestada,
Pela cama doada
E pelos cobertores velhos que ainda conseguem aquecer a quem deles dispor.
Mas, dando ainda mais valor a aqueles que me ajudaram.
Gente que antes nunca vi, não voltarei a ver, mas que jamais esquecerei.

Minha terra é toda a terra.
Minha família são todas as famílias.
Não posso negar que algo triste parece acontecer a cada instante nesse gigante lar.
Mas posso afirmar que tudo aqui parece me amar.

E, ainda que focos de maldade ceguem alguns homens.
Ainda, que a natureza maltratada não consiga mais proteger tão bem aos filhos que acolheu.
Ainda, que os elementos da terra tenham se transformado também em elementos de temor.
Ainda, que cada ato de amor pareça sufocado pelos ruídos de uma tormenta elétrica.
Ainda assim, me sinto bem aqui.
Ainda assim, amo tudo aqui.
Ainda assim, sou humano.
Ainda assim, sou terráqueo.


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