terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Não quero um bom dia... Quero um dia inteiro

eu poderia lhe dizer
que hoje o dia será maravilhoso
Que não choverá
e que não fará muito calor.
poderia dizer que tudo estará cantando
que os sorrisos se abrirão, ao te ver passar
que cada flor abrira e colorirá seu caminho
e que as folhas farão um tapete dourado para seu desfile.

seria bom lhe desejar todo afeto e carinho do mundo.
Mas, quem sabe hoje eu não consiga...
hoje talvez eu esteja com muita saudade
hoje quem sabe o vazio pareça maior
E quem sabe hoje,
quem sabe só hoje,
eu desejaria...
Que as distâncias fossem menores
Desejaria enjoar de te ver ou esperar você o fazer.
Desejaria o dia todo trancado em casa,
ou num parque
ou em frente a tv.
Só pra te ver. Pra te tocar e contar...

que Você ilumina meu caminho,
que com você um dia ruim seria bom.
e então...
molhados, sujos e insultados..
mas juntos.
eu diria,
foi um ótimo dia.

Reconstrução

Tento achar uma maneira de relatar o que seus olhos me contaram outro dia.
Tentar relatar para ti, ó dona de tão belas magias, o quão encantador são seus gestos.
Tento lembrar o que senti ao te conhecer, o que senti ao te tocar, o que sinto ao saber de ti.
Tentar relatar lembranças tão labirínticas parece ser uma espécie de profanação a sua vida sempre mutante.
Mas ainda assim, se ainda estou aqui escrevendo é por que algo tento.
Certamente de tanto tentar me cansarei daqui alguns longos instantes.
E ai, ó reluzente estrela fugaz, terei por fim tantas memórias de ti, e tão desorganizadas na cabeça, que serei capaz de lhe sentir como se de fato estivesse aqui.
Poderei olhar-te nos olhos e ver um velho barco que navega imperturbável em um mar calmo de verão. Poderei verte sonhando nele, te ver relatando aos ventos que a lua é sua, e que chegaras a ela pelo mar, escalando a luz de seu brilhar refletida em alguma parte secreta do oceano.
Poderei sentir sua face repousar sobre pensamentos de carinho, imaginar suas mãos envolventes feito asas que cercam a quem protege e ama.
Poderei verte falar com a simplicidade de quem não sabe que sua voz agrada tanto e é tão delicadamente bela quanto seda ou pluma.
Poderei verte sorrir, admirar como brilha ainda mais do que eu jamais imaginei ser possível. Em seu sorriso eu poderei encontrar sua alegria expressa na mais pura tela de serenidade.
Sua face toda desenha uma sinfonia perfeitamente sintonizada com uma freqüência angelical.
Seu andar tem poesia.
De seu corpo erradia calor e mistério. Es linda, uma espécie de solista dos encantos da terra.
Assim como a um quadro de galerias do centro da cidade, você também dever ser interpretada por sensíveis admiradores. Mas não te imagino presa à parede rondada por uma moldura cara, apenas te vejo livre e bela como es, e como desejo, sempre seja.
Como uma lagoa que tenta se manter transparente para que vejam as raras pedras ali escondidas, você segue mostrando apenas as suas mais belas qualidades. São tantas, que uma pedra não tão bela seria irrelevante se comparada aos seus muitos cristais.
E, numa noite fria e sem luar de Curitiba, consigo verte em cada canto da casa.
O que seria do soar alto da corneta do tempo, se não tivessem pessoas como você provando ao mundo que cada segundo vale a pena...

Se Seguir

Seguindo vou sempre em frente.
Seguindo vou atrás de quem segue.
Será quem segue o que vai à frente ou quem segue é quem segue atrás?
Será seguir igual a perseguir ou a prosseguir?
Será seguir-te uma solução segura?

Se te sigo, não sei se faço o certo.
Se me segues, sei que não faz o certo.
Se seguimos, seguimos juntos.
Seguindo juntos,
Chegaremos a algum lugar,
Ou não.
Mas ainda assim seguiremos.
Seguiremos não na frente,
Não a trás,
Apenas juntos.
Em passos compassados.
A pé.
Seguindo o sol.
Que por sua vez só segue a si mesmo.


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Pontas e Cortes.

Passam os dias pelas grades da minha vida e eu mal percebo as sutis ações de tempo.
Tudo acontece tão rápido que até me surpreendo quando percebo que tenho um novo corte no dedo.
Como posso não perceber que me feri? Algo rasgou minha carne, sangrou e doeu. Mas eu, sem tempo, não percebi. Eu, preferi ignorar.
Se não percebo o que me fere, como posso perceber o que me cura, o que me estimula ou me completa?
Muitos temem as mudanças porque elas escondem armadilhas muitas vezes cruéis. Porem todas as grandes armadilhas escondem também um tesouro valioso.
Um ser pode escolher entre o caminho mais belo ou o caminho mais tortuoso. Mas um ser pode também não escolher.E na omissão ficará parado na estrada, sentado, sem ir para nenhum lado.
E ali parado o tempo parece passar mais depressa, tudo parece acontecer de maneira idêntica todos os dias. Como se fosse uma linha de aço contínua e imutável por onde trafegamos sem questionar a falta de destino.
Porem, às vezes desta linha escapa uma pequena ponta de arame. Uma ponta singular, mas da qual não podemos desviar. O caminho já esta traçado e sair da linha seria uma blasfêmia aos anos de mesmice. Então a ponta nos toca e nos corta.
É um corte pequeno, sutil e nem merece muita atenção.

É apenas um corte no dedo?
Ou são apenas anos de uma rotina que de tão desgastada já solta arames pelas bordas?

Aos segredos que não vejo.

Eu sempre tento me ver por outros olhos.
Crio personagens, cenas, lugares.
É como se com isso minha vida parecesse mais interessante.
É como se, de fato, ela tivesse algum sentido.

Como se nela tivesse algum silencio.
Alguma paz ou aconchego verdadeiro.
Eu sempre tento me ver por outros olhos.
Já que os meus não me vem como eu me vejo.

Os olhos.
Sempre os olhos.
Sempre o brilho único de cada par de olhos.
Sempre os segredos que eles escondem.

Cada olhar que vejo durante o dia me conta uma centena de coisas.
Mas em poucos á uma centelha de luz.
E dentre esses pares que passeiam perdidos nas ruas.
Encontram-se os meus.
Neles, o maior segredo da minha vida,
Muito bem guardado.
Sábio, foi aquele que escondeu nos meus olhos,
Aquilo que eu procuro por toda essa vida.

Há pois, uma esperança já revelada e novamente escondida ou sobreposta.
Há, nesses meus pensamentos filtrados através dos muitos olhares em que me vi refletido,
Uma verdade que se mistura as minhas historias fantasiosas.
Eu digo que é uma esperança. Mas também digo que é uma espera sem ação.
Um viver pouco a pouco,
Enquanto se morre pouco a pouco.
Em nuvens de sonhos que se sobrepõem,
Que nublam o sol,
E que às vezes se dissolvem em lagrimas salgadas para cair, se ajuntando a tantas outras em um lago estagnado.
Por traz de todo esse quadro,
Atrás da lua e do sol,
E tão inacessível quanto à verdade do universo.
Lá distantes, vendo tudo,
Estão meus olhos.

Que almejam quietos não ver mais o universo,
O mundo,
A cidade,
Você.
E caem em um lamento eterno de desejarem apenas serem vistos.
Compreendidos.
E quem sabe. Se for permitido.
Serem amados.



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Terráqueo

Entre lençóis que bailam nos varais do quintal,
Eu ando sem rumo, tal qual uma criança que brinca de esconder.
Não acho nada alem de tecidos leves de cores serenas.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Sentado numa pedra que se destaca no alto de um morro,
Percebo que balanço um pouco com a força do vento.
Naturalmente olho para baixo e vejo que meus pés se apóiam num precipício.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Uma casa simples, falha ao tentar me proteger do frio.
Temendo e tremendo eu deito ainda de calçados.
A cama velha range, as mantas são duras e a neve se acumula na janela.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Há um terremoto a cada instante.
Uma nuvem negra de enxofre toma parte do planeta.
Uma enchente transforma a metrópole em lar do caos.
Metais voam impulsionados pela força da pólvora e direcionados aos corpos frágeis de carne.
O fogo que aquece também destrói.
Ainda assim, me sinto bem aqui.

Minha identidade foi esculpida nas madeiras da terra.
Fui selado em um corpo limpo como tela em branco,
Sentindo sinfonias que entram e saem de mim.
Meus pensamentos montam novos planetas em segundos,
Basta apenas eu permitir.
E, se permito, crio um novo mundo.
Segundos depois meu novo mundo deixa de existir.
Porque por mais belo que meu novo mundo seja,
Só será valido se houver outros como eu nele.
Só serão belos os lençóis se ao menos outro correr comigo entre eles.
Só não balançarei nas beiradas do precipício se alguém me der a segurança para se manter no topo.
Graças a outras pessoas posso dormir bem numa noite de frio,
Agradecido Pela casa emprestada,
Pela cama doada
E pelos cobertores velhos que ainda conseguem aquecer a quem deles dispor.
Mas, dando ainda mais valor a aqueles que me ajudaram.
Gente que antes nunca vi, não voltarei a ver, mas que jamais esquecerei.

Minha terra é toda a terra.
Minha família são todas as famílias.
Não posso negar que algo triste parece acontecer a cada instante nesse gigante lar.
Mas posso afirmar que tudo aqui parece me amar.

E, ainda que focos de maldade ceguem alguns homens.
Ainda, que a natureza maltratada não consiga mais proteger tão bem aos filhos que acolheu.
Ainda, que os elementos da terra tenham se transformado também em elementos de temor.
Ainda, que cada ato de amor pareça sufocado pelos ruídos de uma tormenta elétrica.
Ainda assim, me sinto bem aqui.
Ainda assim, amo tudo aqui.
Ainda assim, sou humano.
Ainda assim, sou terráqueo.


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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quarto Livre

Há um quarto em mim que está livre
Não está para alugar ou vender
Apenas está livre

É um espaço vazio onde não guardo sucata
Onde não há uma tv e almofadas no chão
Onde sequer há um tapete

Há nele um chão duro de cimento
Paredes sem acabamento
E janelas velhas que já não abrem mais

Confesso que não é muito confortável
É frio em dias de frio e quente em dias de calor
O sol nunca ilumina seu interior, ainda assim tem algo de luz

É a habitação mais bela da minha casa
Não é muito
É até bem pouco

O quarto parece estar caindo aos pedaços
Parece feio ao meu ver
Mas é o melhor que posso oferecer

Se não fui bem na construção e acabamento
Se não iluminei de fora pra dentro
Ao menos fui bem na localização
No centro da casa, no centro do coração

A casa em si não é tão simples
Tem mil decorações
Mas a ti que amo, não quero mostrar essas futilidades
Quero oferecer apenas o meu modesto quarto inacabado.

Pois ali onde nada há, tudo passa a ser nada.
E o que antes nada parecia, passa a ser tudo.
Ali no meu quarto de paredes cruas
É onde eu sou eu
E onde você pode ser você.
E onde nós poderemos ser eu e você.

Simples assim.