Sou acordado por um trovão.
No desaconchego do susto, em busca de algum sinal de consciência, tento saber se o trovão foi um sonho ou não.
A movimentação na casa. As vozes que cochicham no quarto ao lado, convencem-me de que o fenômeno foi de fato real.
Já mais calmo, passo a ouvir a chuva bater com força na janela. A violência da água parece reproduzir o tremor daquele grito do céu.
Estou só na habitação.
Após Olhar para ambos os lados, percebo que meu coração ainda esta batendo rápido. O susto me deixou um eco maior que o do som. Se criança, certamente iria para a cama dos pais desfrutar da sensação de proteção que sua presença emana.
Deito a cabeça no travesseiro Na tentativa de dormir. Mas parece que algumas palavras foram gravadas em minha mente e se repetem sem parar. Não posso entender o que é. Mas ainda assim não paro de ouvi-las.
Mais um tremer de trovão.
Mais um susto.
É como acordar, mesmo já estando acordado.
É como pensar que o trovão foi um recado da tormenta.
É como perceber que ali, no meio de todo aquele barulho, daquele ruído grave e rouco, estão escondidos os reclames do céu.
É como uma voz oca.
É como sentir que o mundo usa de seu poder para nos alertar. Mas só consegue nos tocar através do medo e do susto.
Frustra-me não entender as palavras do trovão. O canto do vento. O cair sonoro da chuva.
Mas ainda assim eu tento sentir.
Ainda sem entender o que diz, tudo aquilo parece me envolver.
E sinto crescer em mim uma vontade de entrar em contato direto com toda aquela sinfonia de sensações.
Me imagino tocando a terra macia e molhada, o cheiro que sai quando entro com as mãos nela.
Me vejo dançando ao compasso da chuva. Rodando sem parar e batendo com os pés nas poças.
Abrindo os braços no topo de uma montanha, de onde vejo toda a serra. E Sentir a suavidade do vento em todo meu corpo e alma.
Sem mais, durmo.
E sonho que na natureza esta tudo o que quero encontrar. E que com trovões fortes a terra implora que eu volte o olhar para ela.
Terra minha mãe.
Minha filha.
Terra, ela.
Terra, eu.
Saudades da Terra.
Saudades de mim.
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