domingo, 14 de dezembro de 2008

Bosque de Metal

Engrenagens Dançando,
Se encaixando
Nada sobra, nada falta
uma perfeita sinfonia

O soprano dos vapores.
o tamborilar dos motores,
Num bate, batuque,
batucada de maracatu.

Fios plastificados em cores
que se entrelaçam como flores.
Árvores transfiguradas em maquinas.
E assovios de pássaros que escapam das junções.

Como um bosque maquinado
Colorido, engrenado e centrado.
Contemplando o próprio poder de criação.
um bosque encantado de ficção.

Porem, nem mesmo no ferro soldado
pelo fogo trovão.
Na linha perfeita do produto em evolução.
Na pintura, juntura e conclusão.

Nem mesmo aquele que vê de longe,
Ou até em fotografia.
Encontra neste bosque
uma mínima faísca de brilho de vida.

E penso,
Até mesmo por ousadia.
Como uma borboleta voando
livremente desencontrada no aço.
Destruiria por completo,
Aquela agradável Visão.

Aquela Perfeição em inox e chumbo,
Harmoniosa Concentração de ferro e sucata,
De lixo,
De nada.

De falta de vida,
De falta de Valor.

.

Lascas

No mover do sangue no peito,
No lado de dentro.
Algo tenta passar a mensagem.
Alego!
Alguma coisa ainda quente tenta passar a mensagem.

Já não há um elo direto com a mente.
Foi cortado por uma navalha de ganância, de conquistas e de poderes.

Mas ali. Ali no peito, feito feto preso em uma bolsa de ossos.

Eis o que insiste em não ser corrompido.
Ali.
Preso e imóvel.
Aquele que segue tentado.
Aquele que abriga em sua tenda uma batalha cega contra a razão.
Ali.
Fruto claro de fato puro.
O coração.

Tenta passar a sua mensagem,
Em um desespero sufocante e cortante.
Em uma cortante lasca lascada de sua prisão óssea,
Cortes sem precisão, trêmulos, arranhados com pouca força.
Linha após linha desde dentro para fora em um amargo ferimento na carne.
Um resultado colorido pelo vermelho sangue decorrente do correr da lasca.
Ali toda a força expressa em uma só palavra.
Carente de energia o coração desfalece e se deixa deitar em seu sarcófago.

E em seu epitáfio de carne e sangue.
Apenas uma palavra.
Apenas.
Amor.

.

Par, ímpar

Conto seis faces que se camuflam na madeira da porta.
Percebo que há uma flor desenhada a cada quatro azulejos.
Duas toalhas penduradas no bóx.
Duas escovas dançando em um copo.
Duas lâmpadas que se revezam na iluminação do ambiente.
Tudo segue uma sintonia, uma classe, uma linha.


Um mundo em par.
Onde até se ímpar.
Ainda há o que olhar.
Todo par tem alguém.
Todo impar também.
Mas no impar há quem
Tem, mas não tem
Ninguém.

.

.

Sondando o Soldado.

Correndo. Parando.
Se parado ou andando.
Na presença clara do medo.
Na presença adiantada do próximo momento.
No presente passado do futuro imperfeito.
Possivelmente desfeito,
Pela ação perdida ou guiada,
Da próxima bala.

Embalado no choro covarde,
Do fraco que é ainda crente,
No velho conto.

Que conta com números,
Letras, palavras e livros.
O desconto eterno da divida,
Sentida no sangue cru da terra nua.

Segue a historia em contos.
Segue em contas.

Contas, como a do terço,
Que desliza ritmado
Pelos dedos enrugados
Da velha senhora da paz.

Idosa insistente que cobre com um pano
O branco de seus cabelos.
No balanço de sua cadeira.
Rodeada pela decoração das estantes.
Pelos porta-instantes, porta-lembranças,
Porta-retratos. Vazios.

Não há o que recordar.
Não há uma única imagem de pura paz para guardar.

Vem a vontade da visita para a vó.
A saudade daquela pele de fraca seda.
A lembrança da infância.

Os barulhos da floresta.
O pânico, perigo, inimigo.

E correndo o soldado ia.
Como corria atrás de pipas derrubadas.
Como pulava os muros subidos.
Como pula corpos derrubados.

Não há distinção, são todos inimigos,
Amigos.
Banhados pelo sangue de um vermelho vivo.
Iluminados pela luz filtrada por folhas mortas.

Correndo, soldado.
Correndo, Garoto.
Correndo, Jovem.

Quebrando galhos e folhas no caminho.
Ossos quebrados como galhos.
Carne rasgada como folha.

A ferida quente não arde.
O sangue leva consigo o calor do corpo.
A terra acolhe o inerte.
A terra aconchega o desesperado.

Perdido o medo nos olhos.
Perdido o brilho.
O carente rosto do menino,
Mendigava o afeto da morte.

Morrendo,
Se entregando.
Sabendo,
Que não estará nos porta-lembranças da paz.

.