domingo, 14 de dezembro de 2008

Sondando o Soldado.

Correndo. Parando.
Se parado ou andando.
Na presença clara do medo.
Na presença adiantada do próximo momento.
No presente passado do futuro imperfeito.
Possivelmente desfeito,
Pela ação perdida ou guiada,
Da próxima bala.

Embalado no choro covarde,
Do fraco que é ainda crente,
No velho conto.

Que conta com números,
Letras, palavras e livros.
O desconto eterno da divida,
Sentida no sangue cru da terra nua.

Segue a historia em contos.
Segue em contas.

Contas, como a do terço,
Que desliza ritmado
Pelos dedos enrugados
Da velha senhora da paz.

Idosa insistente que cobre com um pano
O branco de seus cabelos.
No balanço de sua cadeira.
Rodeada pela decoração das estantes.
Pelos porta-instantes, porta-lembranças,
Porta-retratos. Vazios.

Não há o que recordar.
Não há uma única imagem de pura paz para guardar.

Vem a vontade da visita para a vó.
A saudade daquela pele de fraca seda.
A lembrança da infância.

Os barulhos da floresta.
O pânico, perigo, inimigo.

E correndo o soldado ia.
Como corria atrás de pipas derrubadas.
Como pulava os muros subidos.
Como pula corpos derrubados.

Não há distinção, são todos inimigos,
Amigos.
Banhados pelo sangue de um vermelho vivo.
Iluminados pela luz filtrada por folhas mortas.

Correndo, soldado.
Correndo, Garoto.
Correndo, Jovem.

Quebrando galhos e folhas no caminho.
Ossos quebrados como galhos.
Carne rasgada como folha.

A ferida quente não arde.
O sangue leva consigo o calor do corpo.
A terra acolhe o inerte.
A terra aconchega o desesperado.

Perdido o medo nos olhos.
Perdido o brilho.
O carente rosto do menino,
Mendigava o afeto da morte.

Morrendo,
Se entregando.
Sabendo,
Que não estará nos porta-lembranças da paz.

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Um comentário:

- disse...

-
eu disse que me lembrava teatro mágico e você não acreditou... tsc...
você cria linhas de raciocínio paralelas, que então se cruzam, se entrelaçam, se completam, mesmo permanecendo paralelas, como só algumas situações na vida são capazes de fazer,
você cria personagem que despertam a imaginação que nos fazem pensar no "e depois?"
você, transformando poemas de que não gosta tanto quanto eu, em mais do que pode imaginar :)