quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

“Ter” de um Poeta.

Como poeta falho, eu tenho que buscar um pouco de dor para me sentir artista, me sentir completo, sentir que as palavras ainda podem expressar uma fração do que sinto, que minha alma pode ser traduzida sutilmente, por esse vocabulário fraco.
Como poeta romântico, tenho que viver a vida com intensidade, tenho que sorrir ao ver o sol sair por meio as nuvens, tenho que me apaixonar toda vez que ver a lua, tenho que brotar lagrimas dos olhos toda vez que uma estrela resolve riscar o céu deixando um risco de brilho fugaz.
Como poeta tenho que descrever em meu coração e em minha alma cada toque cálido que meu corpo já sentiu. Cada olhar entorpecente que penetrou pelas janelas da minha face. Cada perfume que embriagou meus sentidos, cada som sussurrado ao pé do ouvido. Cada suspiro. Cada palavra de um cantar doce de uma princesa.
Como poeta tenho que saber sofrer para entender a felicidade, tenho que me ferir para ter o prazer da cura e a cicatriz que demarca um pouco mais de sabedoria. Tenho que voar ao pular com uma bicicleta por uma rampa de tijolos, tenho que cair, tem que doer quando as pedras do asfalto rasgam a pele. Tenho que ter um amigo que venha a mim e ao me ver ferido, mas bem, me diga que fui impressionante.
Como poeta eu preciso sair daqui, preciso voltar pra cá, preciso de uma mochila velha com botons coloridos, preciso de um caderno azul desbotado, uma caneta que falha sempre, um lápis com a ponta quebrada e uma faca de cozinha para apontar.
Como poeta eu preciso de um contato com a natureza, deitar na grama, pisar na terra, colher fruta no pé, dormir baixo uma árvore. Preciso ver entardecer, ver amanhecer.
Como poeta eu tenho que ignorar que tenho que ter algo a fazer. Tenho que não saber o que ser para não esquecer o que sou.
Tenho que sentir muitas identidades para entender melhor a minha.
Tenho que ser uma personagem realista que vive sonhando.
Tenho que crer, tenho que descrer.
Mas fora tudo o que tenho que ser por ser poeta. Tenho que ter a parte máxima que me torna mais do que isso.
Que me torna humano, que me prova a existência de uma alma.
Para ser poeta eu tenho que amar.
Se não há amor, de que adianta escrever? Se não há amor, não há sentido em nada.
Se não há amor... Se não há amor... Haverá mesmo amor?
Pensar nisso me faz sentir falido, fraco, falho. Mas acredito que talvez um poeta que se sente falho tem que buscar um pouco de dor para se sentir artista...
E ai recomeça, retermina, vive, revive, lê e rele toda a confusa constelação das necessidades de um poeta.