Sempre fico surpreso com o tanto que você parece me conhecer.
Não mude.
Antes mesmo de se despedir, de desligar, de dizer que sente saudades e de deixar um beijo. Antes de toda essa rotina adotada para dar um adeus, você pede para eu não mudar.
Mudar.
Desde sempre recebi elogios (principalmente em comemorações como aniversario ou em alguma despedida) onde alem da parabenização era me dado um conselho de ouro:
Você é uma pessoa muito especial! Continue Assim!
Continue assim. Não mude.
Isso me soa inverso. É como se todo o universo estivesse me implorando uma mudança.
Sinto, na verdade, que o que se pede não é que eu mude. Mas sim que eu perceba que estou mudando. Não mude. Isso parece ser o mesmo que dizer a alguém que acaba de pular em um perigoso rio de mortais corredeiras para não nadar. Como eu poderia não mudar?
Certo. Eu sei que isso ira exigir de mim uma energia que não posso dar. Ira me sugar ainda mais do que a rotina sufocante que tento desesperadamente fingir que não existe. Mas como poderei viver se não mudar. Já a tempo me vejo o mesmo. Eu não acredito que sobreviveria a uma mudança realmente radical. Mas tampouco acredito que viverei se seguir uma linha reta e direta. Não que não goste de ter uma estabilidade, na verdade é um grande sonho ter uma vida singularmente encaminhada. Mas, de que adianta viver os dias com segurança se nas noites perco o sono por medo de sonhar. De que adiantam as conquistas diárias, as boas vibrações da mente e os livros lidos, se no silencio o coração me pede mais.
Não consigo ver as coisas como os outros vêm. E se digo que vejo ou concordo, certamente minto. E com isso guardo mais uma idéia que não pode ser compartilhada.
Guardo. Essa palavra não foi bem usada, pois se guardam coisas que serão novamente usadas mais tarde. Então, seria mais correto dizer que deixo perder mais uma idéia nessa mente vaga e de pouco poder de memória. Talvez com o passar do tempo eu tropece nessa idéia e tenha com o baque da queda mais coragem para expressá-la. Caso não consiga, certamente terei seguido o seu conselho e não mudei.
3 comentários:
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duas perspectivas de você num mesmo texto.
as pessoas que te olham, com olhos cheios de promessas, e pedem que não mude - claro, temos de dar créditos a elas, elas querem dizer que esperam que você seja sempre a pessoa que elas tanto gostam e que tanto as ajuda nos momentos mais incertos; nao duvidaria que eu tivesse feito esse pedido a você algumas vezes.
e temos você mesmo, nos mostrando que pedimos o absurdo a uma pessoa viva e cheia de mutações. você nos mostra que não te conhecemos a metade, e que você sempre estará pronto para surpreender com mudanças que nao irá declará mas que estarao visiveis em seus olhos.
então por fim, peço que mude. que pare de guardar ideias e comece a gritá-las para o mundo.
:)
mude. surpreenda. se surpreenda. a partir do momento que nos permitimos mudar, endoidar, gritar, xingar, rir e chorar, vivemos. vivemos uma vida mais intensa, que as vezes dói, arde e sangra. mas uma vida marcada. tudo são experiências. o mundo é um ambiente caótico, como passar por ele sem mutações nem marcas? impossível. façamos o seguinte então, deixemos que essas mutações e marcas sejam adornos do nosso corpo e vida, e que por eles vejam, "sim, já vivi muito, mas ainda tenho muito espaço para mais adornos, e para mais vida."
Mudanças compelem, mudanças impelem, mudanças geram estresse que forçam reavaliações que levam a conclusões que levam, inevitavelmente, a novas mudanças. Uma das poucas constantes da vida - mudanças.
www.paragrafo.org
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